Paratriatleta Tatiana Lima conta sua história de vida e faz panorama do Atletismo Paralímpico para o Time Cielo
A XVI edição dos Jogos Paralímpicos terminou no dia 05 de setembro e marcou o melhor desempenho do Brasil na história do evento, com 22 ouros, 20 pratas e 30 bronzes. Mas o notável 7º lugar no quadro geral de medalhas não mostra, necessariamente, o real cenário do esporte paralímpico no país.
Para falar sobre o assunto e compartilhar com o Time Cielo os desafios do dia a dia dos paratletas, a edição do Conversas Plurais do último dia 17/09 teve como convidada a paratriatleta Tatiana Lima.
Com o tema “Paratletismo – Cenário e Panorama no Brasil”, o evento online contou com abertura e encerramento de Thalita Martorelli, Superintendente Executiva de Marketing da Cielo e mediação de Alexandra Carvalho, Coordenadora do Somos Todos Um (grupo de diversidade da Cielo voltado para a participação plena e equitária de PCDs na companhia).
O bate-papo também fez alusão a dois marcos do calendário da Diversidade e Inclusão comemorados em setembro, conforme destacados por Thalita:
“Temos duas datas emblemáticas sobre esse tema no mês de setembro: o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, celebrado dia 21, e o Dia Nacional do Deficiente Auditivo, comemorado no dia 26. São datas muito importantes para aumentar a conscientização a respeito das pessoas com deficiência”.
Olhar da sociedade deve privilegiar o ser humano e não a deficiência
Antes de iniciar o bate-papo com nossa convidada, Alexandra Carvalho fez questão de exaltar a história de vida e de superação da atleta em vez de destacar as questões relacionadas à deficiência em si:
“Não é porque a pessoa é PCD que ela não tem capacidade de fazer isso ou aquilo. A capacidade é nossa, ela é inerente ao ser humano desde que ele queira”.
E Tatiana Lima mostrou exatamente isso. Deficiente auditiva bilateral após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico, ela incluiu o esporte em sua vida como parte do tratamento para voltar a andar e falar.
Começou com a corrida de rua; depois, partiu para a corrida de montanha, trilha e stand-up até chegar à prática do triatlo.
“Me apaixonei pela corrida de rua e queria me superar. Fui me superando e mudando de esporte. Cheguei a competir na São Silvestre na minha categoria no pelotão de deficientes e na minha faixa etária, conquistando o nono lugar”, contou Tatiana.
O ótimo desempenho fez com que os amigos incentivassem a prática no triatlo. O acesso às praias de Alagoas foi um facilitador para iniciar os treinamentos.
A adaptação foi tão rápida que o Presidente da Federação local inscreveu Tatiana em uma competição, realizada em novembro de 2020.
“Foi uma prova virtual e, para minha surpresa, quando os tempos foram validados, vi que tinha ficado em 4º lugar em nível nacional e em 1º lugar estadual. Assim, me tornei a primeira paratriatleta deficiente auditiva de Alagoas”, contou.
Para ela, o resultado trouxe uma certeza: havia vida após o AVC e a deficiência.
“A deficiência não te impede de nada. Se você se vitimizar diante da sociedade, a sociedade vai te vitimizar de volta. Diagnóstico não é destino”, disse Tatiana, emocionando o Time Cielo.
Esportes paralímpicos carecem de apoio e visibilidade
Apesar dos resultados positivos alcançados, Tatiana Lima dividiu também as angústias e obstáculos enfrentados não só por ela, como pelos esportes paralímpicos em geral.
Além da dificuldade em conseguir apoio financeiro e patrocínio, a falta de visibilidade das competições também é um fator decisivo para que o país não aproveite ao máximo o potencial que a prática esportiva traz.
“Acredito que a falta de apoio é muito maior aqui no Nordeste. Aqui, a deficiência de patrocínio é grande. Não é fácil, temos que correr atrás e buscar apoio em vários órgãos. Junto com o Presidente da Federação, formei um grupo de atletas com diversos tipos de deficiência no WhatsApp para que pudéssemos nos ajudar mutuamente”, relatou.
Para ela, essa força tarefa é uma iniciativa importante para buscar apoio das empresas e conseguir investimento:
“Investir no paratleta é um investimento interessante não só em relação aos tributos, ganhos financeiros e incentivos fiscais que a empresa recebe. Ela também tem um ganho em relação ao aspecto emocional dos colaboradores. Eles percebem o valor do investimento que a empresa faz”.
Tatiana também descreveu o esforço para ganhar mais espaço e ter maior cobertura na mídia.
“Não temos tanta mídia, mas estamos fazendo um ‘trabalho de formiguinha’ para mudar essa realidade. E não é ajudar porque ‘somos coitadinhos’. Queremos elevar nosso status. Queremos apoio e oportunidade porque somos atletas, de alta performance. E queremos mostrar ao público que nós existimos”, conta.
Além de enfrentar o capacitismo, nossa convidada encara também um outro problema característico da nossa sociedade: o machismo.
Tatiana relata que as mulheres paratletas encaram ainda mais dificuldades que os homens que praticam esportes paralímpicos:
“Nós, mulheres, sofremos mais. Nas reuniões, notamos que há um interesse maior nos paratletas masculinos. São aqueles que conseguem apoio maior. Até dentro do próprio ambiente esportivo do paratletismo, já sofri preconceito várias vezes, inclusive de pessoas com deficiência”.
Para encerrar, Tatiana Lima dividiu com nossos colaboradores como o esporte é uma ferramenta importante para promover uma visão positiva sobre as pessoas com deficiência, além de ajudar a transformar as vidas das pessoas.
“Muitas vezes, pensei que não conseguiria. Fiquei dois anos em processo de aceitação porque eu não aceitava que tinha ficado deficiente auditiva. Mas o esporte muda a vida das pessoas. Ou eu me entregava ou reescrevia minha história. Aproveitem, não desistam dos seus sonhos. A vida é uma só. E ela é muito curta para ser pequena”.