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Conversas Plurais aborda os desafios enfrentados pela população trans no acesso à saúde e na transição de gênero

Publicado por Equipe Cielo

Um exercício de empatia. É dessa forma que podemos definir a edição do Conversas Plurais realizada no fim de outubro. Com o tema “Os Desafios Enfrentados Pela População Trans no Acesso à Saúde e na Transição de Gênero”, o encontro online voltado para o Time Cielo abordou os desafios que as pessoas trans enfrentam na sociedade por causa do preconceito.

Com mediação de Rafael Gifalli, analista de Desenvolvimento de Marketing da Cielo, o bate-papo contou com a presença de Theo Linero, homem trans, profissional CFP® e professor do Master em Economia Comportamental na ESPM; Samara Fronckowiak, mulher trans e microempreendedora individual; e Bruno Correia, psicólogo clínico e social especializado em população LGBTQIA+.

Através do relato de situações do dia a dia, cada um deles trouxe impressões, dores e dificuldades enfrentadas no país que mais mata travestis e pessoas trans no mundo, de acordo com o “Dossiê dos Assassinatos e da Violência Contra Pessoas Trans Brasileiras 2020”, feito pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA).

Confira os principais trechos do bate-papo!

 

“O entendimento é necessário para acabar com o preconceito”

O primeiro convidado a falar foi Theo Linero:

“Sou um homem trans e tenho 32 anos. Posso dizer que sou privilegiado por vários fatores. Um dos mais estranhos é que fiz minha transição de gênero mais velho, entre 27 e 28 anos. Meu privilégio está no fato que eu consegui terminar o Ensino Médio, fazer uma faculdade, mestrado e eu mantive o meu emprego. Pode parecer bobagem, já que estou falando do acesso à educação, um direito básico. Mas isso muitas vezes é negado às pessoas trans. E isso me diferencia em relação a outras pessoas trans: as oportunidades que tive”, disse.

Em seguida, Theo pontuou que, grande parte da falta de entendimento da sociedade em relação às pessoas transgênero é gerada pela ausência de referências sobre o assunto. Para ele, o tema continua sendo um tabu, o que dificulta até a autodescoberta das pessoas trans em relação àprópria falta de identificação com os padrões feminino ou masculino normalmente difundidos socialmente:

“Pesquisando e tentando encontrar grupos de apoio para fazer a minha transição, descobri que existem várias pessoas como eu no mundo. E dá um alívio enorme saber que o que sentia não era coisa da minha cabeça”, relatou. “A sociedade sempre tenta colocar as pessoas em ‘caixinhas’. Mas os padrões são expectativas dos outros em relação a nós. E nós podemos quebrar padrões”.

Numa sociedade cada vez mais plural, é necessário não só aceitar essa ruptura de padrões, mas abraçar e olhar para todas as pessoas sem julgamento.

“As pessoas trans que têm a coragem de se entender e mergulhar fundo para se entender enquanto ser humano, ela olha ao redor e ao mesmo tempo precisa dizer que “aceita” todas as consequências que isso vai ter na vida dela. E isso muitas vezes quer dizer serem expulsas de casa, terem que abandonar o ambiente escolar por causa do preconceito, não terem oportunidades de trabalho por causa da transfobia… Poucas são as pessoas que têm apoio da família e dos amigos e ter que lidar com isso e com todo preconceito, não é fácil”, pontuou Theo, conscientizando o Time Cielo sobre necessidade do acolhimento.

Essas questões fazem com que o cuidado com a saúde seja mais um desafio enfrentado pelas pessoas trans.

“Por exemplo: como homem trans, eu preciso ir ao ginecologista. Se para mulher, isso já é algo incômodo, para o homem trans estar naquele ambiente tido como ‘feminino’, é algo, digamos, bastante complexo”, brincou Theo. “Mas isso não é só no ginecologista. Na saúde, infelizmente, os profissionais nem sempre estão preparados para atender pessoas trans. E já passei por situações de preconceito até em uma consulta com dermatologista”.

Desde 1990, a transexualidade era considerada como um transtorno mental. Isso só foi revisto em 2018, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) revisou a Classificação Internacional de Doenças (CID). Para Theo, essa mudança é resultado de muitas lutas, mas ainda há muito a ser feito, principalmente no que diz respeito à saúde mental das pessoas trans:

“O apoio psicológico é essencial para lidarmos com o preconceito. Ninguém é igual a ninguém. Então, quero acreditar que todo esse preconceito social é fruto do desconhecimento e é algo que a gente pode superar”.

Theo enfatizou que, o fato de ser uma pessoa trans, é apenas uma das características dele como ser humano. E que, o que ele realmente é, extrapola essa questão:

“Não sou apenas uma pessoa trans. Eu sou marido, sou filho, sou amigo, sou profissional, sou várias outras coisas. Não peguem um aspecto do que sou para me julgar ou achar que sou menos ou mais do que outras pessoas. Precisamos nos respeitar para que nossa sociedade seja melhor”.

 

Autoaceitação é o primeiro passo para a realização

Na sequência do nosso “café com empatia”, nosso mediador Rafael Gifalli convidou Samara Fronckowiak para partilhar suas vivências e dificuldades no acesso à Saúde.

“Minha transição foi muito difícil porque minha família não me aceitava. Eu não entendia bem meu corpo, não entendia bem quem eu era, quem eu queria ser e foi muito confuso. E não tinha ninguém para me apoiar, me auxiliar. Foi difícil, mas a gente resiste. Em relação à Saúde, minha transição foi difícil em relação à medicação. Comecei sem auxílio médico e tomando remédios por conta própria, até entender que isso era muito errado.”, disse.

Samara atualmente faz tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas ela alerta que a falta de remédios disponível é mais uma barreira a ser enfrentada pelas pessoas trans:

“A demanda é grande para poucos remédios. Isso também mexe com nossa cabeça, com nosso corpo. Ficar sem a medicação mexe demais com a gente”, contou.

Ela reforçou a necessidade das pessoas trans se aceitaram e de terem autoestima como primeiro passo para a realização pessoal:

“Apesar de tudo, o mais importante é você se apoiar e se aceitar. Precisamos buscar o amor próprio primeiro e depois, o amor do próximo”.

Bruno Correia reforçou esse ponto. Para ele, não é possível avançarmos como sociedade se deixamos pessoas para trás, sem acolhimento:

“Pessoas trans têm o direito de construir a própria vida. E claro que, quando falamos isso, falamos de emprego, de inclusão social. Mas, quando falamos de Saúde, a questão da transição é essencial. E isso é muito novo no Brasil e a capilarização e o acesso no país ainda são difíceis. A transição traz dignidade para a pessoa trans”, reforçou.

Bruno explicou ainda que a transição é crucial para a saúde física e emocional das pessoas trans pois ela tem relação direta com a busca pelo pertencimento:

“No geral, todos nós buscamos o acolhimento, ser aceitos. E para a pessoa trans isso é ainda mais delicado, porque antes da transição, ela ainda está tentando se encontrar até na imagem externa. Tem um termo que é passabilidade e fala exatamente disso. A passabilidade é quando uma pessoa trans consegue estar num ambiente sem que ela seja percebida como uma pessoa trans e isso gera menos desconforto para ela. O importante é pertencer na diferença. Somos todos iguais, mas somos diferentes ao mesmo tempo”.

Para encerrar essa edição do Conversas Plurais, Rafael Giffali lembrou que a empatia e o respeito ao próximo devem ser trabalhados em cada um de nós, para que todas as pessoas trans possam ter direitos básicos como, por exemplo, ir ao banheiro do gênero com o qual se identificam ou poder andar de mãos dadas na rua com quem for.

“Precisamos respeitar o direito das pessoas de existir e de ser quem somos. Queremos apenas isso: poder ser quem somos”, finalizou.

 

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